Quem são os barões do jogo?
O assassinato de um policial militar dentro de um estabelecimento que explora o jogo de caça-níqueis reacendeu as discussões sobre a necessidade de ações mais duras na repressão a essa contravenção que se alastrou como praga. Não é difícil encontrar máquinas funcionando em praticamente todas as esquinas, tomando o minguado dinheiro dos tolos que divagam na esperança de levar vantagem com a jogatina. Ledo engano. As máquinas são acertadas para envolver o jogador emocionalmente até que ele se dê conta de que perdeu tudo do pouco que tinha no bolso.
Como as coisas no Brasil só funcionam à base de fatos de repercussão negativa, com a morte do militar – que não se sabe ao certo se jogava ou fazia segurança ao estabelecimento – não foi diferente. As reações foram quase imediatas e um conhecido enredo de promessas de solução foi tirado novamente da gaveta e apresentado à sociedade como o antídoto ideal para erradicar, no caso específico, o jogo de azar.
É sempre assim. Os caça-níqueis foram proibidos pelo Supremo Tribunal Federal, mas suas máquinas continuam faturando alto. O que não se sabe até agora é quem são os barões do jogo. Os caça-níqueis, como outros esquemas que demarcam território, ingressando nas esferas públicas na busca de respaldo, têm de sofrer um enfrentamento sistemático e duro, sem vaidades por parte dos seus executores. No que compete à segurança pública, as respostas têm sido dadas com as milhares de máquinas apreendidas e com a responsabilização criminal dos contraventores. Se há organização criminosa por trás do jogo, além de lavagem de dinheiro e outras modalidades criminosas que transcendem a esfera estadual, os órgãos de repressão federal não estão inertes e darão igualmente, como sempre fazem com muita propriedade e coragem, as respostas desejadas.
O dono do comércio que explora o jogo de azar não deve sofrer apenas as sanções previstas na prática da Contravenção Penal. A adoção da medida administrativa com a cassação do alvará de funcionamento do estabelecimento reforça as ações repressivas, considerando que, para continuar prosperando, o jogo depende fundamentalmente da disseminação de máquinas em pontos estratégicos porque atraem pessoas e, conseqüente, jogadores e dinheiro.
Os verdadeiros donos do jogo devem ser conhecidos para que não pairem dúvidas sobre qual político, policial ou empresário está por trás dos caça-níqueis, como sugeriu o Ministério Público, sem apontar nomes. Doa a quem doer, os barões do jogo não devem continuar usando carapuça para que nem todos políticos, policiais ou empresários paguem inocentes pelo que não devem.
*Norton Luiz Ferreira é delegado de Polícia
Fonte: Jornal O Popular