ATLAS DA VIOLÊNCIA: Homicídio de mulheres sobe 66,4% entre 2006 e 2016
Em 2016, a cada 100 mil mulheres em Goiás, mais de sete morreram. A taxa de 7,1 por 100 mil habitantes colocou o Estado em terceiro no ranking relativo aos que mais têm mulheres mortas, atrás apenas de Roraima (10) e do Pará (7,2). Entre 2006 e 2016, há uma variação de 66,4% no número absoluto de casos. Nos dados há a somatória das ocorrências de feminicídios, quando a morte ocorre no contexto de desigualdade de gênero, e de assassinatos de mulheres nos demais casos.
O relatório está no Atlas da Violência, divulgado anualmente pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em parceria com o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), do governo federal. O número de homicídios do Atlas é retirado do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. Em outubro daquele ano, entre os dias 3 e 9, seis foram as vítimas. Entre elas, Saionara Santiago Rocha, de 24 anos, foi morta no apartamento em que morava pelo namorado, o estudante Pedro Frederico Andrade Salgado, de 23 anos, em Goiânia. Ele foi preso dois dias depois e confessou o crime. Saionara, natural do Acre, foi morta com duas facadas no peito e Pedro ainda tentou degolá-la.
Apesar dos dados se referirem a 2016, há casos recentes que demonstram a continuidade do problema. Na última segunda-feira, a vendedora Denise Ferreira da Silva, de 34 anos, que estava grávida de quatro meses, foi morta em casa ao tomar um tiro desferido pelo ex-marido, Aginaldo Viríssimo Cuelho, de 50 anos (leia mais na página 13). Já no dia 10 de maio, a advogada Laís Fernanda Araújo Silva, de 30 anos, foi morta em um latrocínio no Setor Alto da Glória, na Região Sul da capital (leia mais na página 15).
Em números absolutos, foram 238 mulheres mortas em 2016. Chama a atenção, no entanto, o quanto o índice é puxado pela morte de mulheres negras. Enquanto a taxa de homicídio por 100 mil habitantes em mulheres não negras em 2016 foi de 4,1, com crescimento de 14,7% em 10 anos, a taxa de assassinato de mulheres negras é mais que o dobro. O índice é de 8,5 e obteve um acréscimo de 48% entre 2006 e 2016.
A pesquisadora do FBSP Roberta Astolfi explica que a taxa de homicídio em geral tem crescido em todo o País, com maior relevância entre os jovens (de 15 a 29 anos), e ainda pior para os negros nesta faixa etária. “A taxa de morte de mulheres vem crescendo no Brasil inteiro. Em Goiás esta é uma questão de bastante preocupação, mas o que é possível ver é que os índices são puxados pelas mulheres negras”, avalia. Ela lembra que o número de casos é somado entre feminicídio e demais crimes, já que a base é o Sim, em que muitas vezes os hospitais não relatam a situação do caso.
“O que sabemos, em geral, é que os homens morrem mais fora de casa e as mulheres morrem mais dentro de casa, o que demonstra o feminicídio”, afirma Roberta. Em relação às mulheres negras, a pesquisadora explica que a situação não é relativa necessariamente à cor da pele, mas todo o contexto histórico e social que faz com que boa parte da população negra viva em situação vulnerável, até mesmo na questão territorial, a dificuldade no acesso à escola e demais problemas. A diferença também ocorre em relação às vítimas homens de homicídio. Enquanto os não negros possuem uma taxa por 100 mil habitantes, em 2016, de 25,9, os negros estão com 55,5. No entanto, a variação desde 2006 para mortes de negros é de 65,1%, a de não negros é de 70,7%.
* Matéria extraída do jornal O Popular.