As duas maiores organizações criminosas do País seriam responsáveis por 34,3% dos homicídios ocorridos este ano em Goiânia. Ordens para matar saem de dentro da POG
Mais de cem tiros foram disparados na última quinta-feira, dia 21, em uma loja de carros batidos na Alameda Câmara Filho, no Parque Oeste Industrial, em Goiânia. Morreram o proprietário do local, Cleiton Carvalho de Oliveira, o funcionário dele, Diogo Cândido de Paula, e o irmão do dono, José Olímpio de Carvalho Neto, o Netim, suposto traficante ligado à facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). Netim seria, de acordo com investigações policiais, o alvo de uma ação encomendada pela facção criminosa carioca Comando Vermelho (CV), comandada em Goiás de dentro da Penitenciária Odenir Guimarães (POG), no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. O líder do grupo em Goiás seria o traficante Sthephan de Souza Vieira, o BH, preso na Ala B da POG.
A disputa pelo comando do tráfico de drogas em Goiânia entre as duas maiores organizações criminosas do País já levou a 89 assassinatos na capital entre janeiro e junho deste ano, segundo a Polícia Civil. São 84 computados pela polícia na conta do CV e 5 na do PCC. Sem considerar as autorias dos outros homicídios registrados de julho para cá, a guerra entre as facções responde por 34,3% dos assassinatos na capital, considerando que até junho foram registradas 259 mortes.
A guerra entre CV e PCC entrou no radar da polícia em janeiro deste ano, na Delegacia de Investigações de Homicídios (DIH). O delegado Douglas Pedrosa, titular da DIH, diz que chamou a atenção dos investigadores o poder bélico de quem estava matando em algumas das ocorrências naquele período. “Sempre muitos tiros e com o uso de mais de uma arma. Armas de uso restrito, principalmente, e com utilização de kit rajada.” O kit rajada possibilita que uma pistola dispare sucessivas vezes enquanto o dedo estiver no gatilho da arma.
Foi a partir destes homicídios com características mais violentas que os delegados Thiago Martimiano e Dannilo Proto, adjuntos da DIH, chegaram aos nomes do CV e do PCC e começaram a mapear a ação das facções no Estado (veja quadro na página ao lado).
Antes do Comando Vermelho e do PCC se firmarem no comando do tráfico em Goiás, as principais bocas de fumo na capital eram controladas por dois traficantes, Iterley Martins de Souza e Thiago César de Souza, o Thiago Topete. O primeiro estava preso na Ala B da POG, o segundo, na Ala C. De acordo com a polícia, as principais ordens do tráfico no Estado saem destas duas alas da POG. “Então, ao contrário do que acontecia no Brasil, onde eram as facções que dominavam o tráfico de drogas e a criminalidade, em Goiás o domínio estava restrito a dois nomes: Iterley e Topete. Eram indivíduos que comandavam. Como Goiás não é uma ilha, uma hora ou outra ia acontecer por aqui (a entrada do crime organizado no Estado). É o que a gente percebe que está acontecendo”, disse Martimiano.
Atualmente, a Ala B é controlada pelo Comando Vermelho, por meio do preso BH e também de José Constantino Júnior, o Juninho. Iterley foi transferido há alguns meses para a penitenciária federal em Campo Grande, mas continua exercendo influência.
Já a Ala C agora é controlada pelo PCC. Thiago Topete foi morto durante uma rebelião na POG em fevereiro deste ano e em seu lugar hoje está seu primo, Jhon Kley Pascoal de Souza, que também lidera o braço goiano da facção criminosa.
Estilos diferentes
As investigações da DIH mostram que PCC e Comando Vermelho têm formas diferentes de atuação. A facção originária de São Paulo tem uma política de dominação de território de cadeia muito agressivo, segundo Martimiano. Criminosos ligados ao PCC são obrigados a pagar o que chamam de dízimo, taxas para sustentar a organização criminosa e para pagar, entre outras coisas, advogados para membros presos. Isso gerou revolta entre parte da população carcerária. O PCC é a maior facção criminosa do país e não se junta a facções locais.
Ocorre que, segundo o delegado, a “taxa” paga ao PCC estava ficando cara em Estados mais distantes de São Paulo. A comunidade carcerária conseguiu e começou a se levantar contra esse domínio do PCC, criando suas próprias facções. Na Amazônia surgiu a Família do Norte (FDN). Na Paraíba existem a Okaida (OKD) e os Estados Unidos. No Rio Grande do Norte, “o Sindicato RN”; E, em Santa Catarina, o Primeiro Grupo Catarinense (PGC). Todos se ligaram a quem fazia o contraponto ao PCC no país: o CV.
Martimiano explicou que, embora tenha estatuto próprio, o CV se alia às facções locais como forma de expandir sua atuação no tráfico de drogas. “Os Estados mais violentos são estes onde as duas facções estão disputando o mando do tráfico. Em São Paulo a taxa de homicídios é baixíssima porque não existe essa guerra pelo controle do tráfico de drogas. É exercido pelo PCC e pronto.”
Expansão
As investigações da DIH apontam que o CV está arregimentado mais membros que a facção paulista aqui no estado. “O BH tem batizado os membros do Comando Vermelho dentro da POG. A facção aqui em Goiás se intitula de Trem Bala, por isso o nome da operação é descarrilhamento. O que fica claro para a polícia é que o que vem acontecendo não é uma disputa entre as alas da POG mais. No final das contas, a guerra continua sendo entre o CV e o PCC. Só que agora, em Goiás”, conta o delegado.
Titular da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP), Ricardo Balestreri disse ao POPULAR que a ação do crime organizado é um fenômeno novo em Goiás, mas que as atividades estão sendo investigadas pelas forças policiais.
Fonte: Jornal Opopular / Por: Rosana Melo