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Violência à mesa

Por Marcos Bandeira*

Reportagem do POPULAR há alguns dias mostrou como a violência na região do chamado Quadrilátero Gourmet do Setor Marista tem afugentado parte da clientela de tradicionais restaurantes e bares da região. O assunto, com razão, tem tirado o sono dos empresários do setor. Principalmente após os tiroteios na porta da boate Lyquid, que assustaram moradores e clientes dos estabelecimentos do bairro – o último resultou na morte de duas pessoas, sendo um policial militar.

A violência, todavia, é apenas parte da crise que atingiu as mesas do polo gastronômico da capital. Como já também abordado pelo POPULAR, corrobora para o cenário o alto preço dos aluguéis comerciais na região, inflacionado pela badalação dos estabelecimentos que se tornaram referência da boa gastronomia de Goiânia. Um problema que já levou parte das casas a migrar para outros pontos da cidade. A falta de infraestrutura para receber os clientes, reflexo da ausência de estacionamentos e do inconveniente dos chamados flanelinhas, é outro fator.

Soma-se a isso a flagrante falta de políticas públicas para vender o polo gastronômico como atrativo turístico da capital. Já se falou, por exemplo, na criação de uma Rua do Lazer, tendo os bares e restaurantes como chamariz para o goianiense que aprecia a boa gastronomia local e o turista interessado em conhecer o que nossos chefs têm a oferecer. Um debate que não saiu do papel, segundo os empresários, por falta de vontade política. Mas não faltou também empenho dos mesmos empresários em encontrar saídas para um problema que só viram crescer nos últimos anos?

Senão vejamos. Diante do extremo da insegurança dos últimos meses – e vale lembrar que não se trata de privilégio do Setor Marista – os próprios empresários se prontificaram a arcar com despesas de estrutura como contrapartida para melhorar o policiamento da região. Um gasto a mais frente à já pesada carga de tributos que, como todo cidadão, são obrigados a dispensar ao Estado, que quase sempre retribui com serviços bem aquém das expectativas. De toda forma, uma saída criativa para um momento de crise. Mas muito pouco para enfrentar o fenômeno da migração de parte do público para os restaurantes dos shoppings, por exemplo.

Uma das poucas opções de lazer do goianiense, os shoppings da capital são pródigos em antecipar tendência e gerar demanda, sempre em sintonia fina com anseios e desejos do consumidor. E as vilas gourmet que se proliferam por seus ambientes estão aí para provar. Fruto da violência crescente ou uma nova onda, o fato é que há uma parcela da sociedade – e aqui se inclui parte do público que nos últimos anos deu prestígio aos restaurantes do Marista – disposta a assegurar sossego e comodidade ao sair para jantar. No momento, esta é a mensagem que ecoa pelas ruas do Quadrilátero Gourmet do Marista.

*Marcos Bandeira é editor do Jornal O Popular

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