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Tolerância zero e o Compstat

Tolerância zero e o CompstatPor Marcelo Melgaço*

O recém-empossado secretário de segurança pública, José Eliton, declarou que implantará em Goiás uma política de tolerância zero no combate à violência. Tolerância Zero ficou mundialmente famosa na década de 1990 como slogan do governo de Nova York, sob o comando de Rudolph Giuliani, para comunicar à população que mesmo os pequenos delitos não seriam mais tolerados.

O grande objetivo era conter a violência que assolava a maior metrópole dos EUA. Contudo, não passaria de um slogan se não houvesse um método robusto de levantamento e análise de informações, avaliação de desempenho e execução de ações que permitiu reduzir em 70% os homicídios e 65% os crimes graves praticados na Big Apple entre 1994 e 2001. No coração do método estava o Compstat, sistema que, segundo o Crime & Delinquency Journal, foi “o motor da política de ‘Tolerância Zero’ implantada em Nova York”.

Em sua autobiografia, O Líder, Giuliani detalha o funcionamento do Compstat (que eu resumi e interpretei nas próximas linhas), método de gestão sustentado em três pilares.

1) Indicadores. O trabalho de qualquer polícia minimamente estruturada, em qualquer lugar do mundo, se baseia em indicadores, mas a diferença para o Compstat reside na qualidade e no tratamento correto dos dados e informações, além da capacidade do sistema de indicadores de apoiar os gestores nas avaliações dos resultados em relação às metas, históricos e tendências. Além disso, a técnica de análise dos dados e informações, decisão sobre o que fazer e execução das ações é seguida à risca, com o propósito de atingir as metas estabelecidas. Conforme Giuliani, “todos os participantes, como o prefeito, o comissário de polícia e os comandantes de distrito, passam a acompanhar o desempenho dos números, sabendo de pronto os que estão melhorando ou piorando”.

2) Reuniões semanais. As reuniões semanais de avaliação do desempenho eram coordenadas pelo próprio Giuliani. Aí temos personificada a figura do líder, o patrocinador de todo o processo de mudança, comprometido pessoal e intransferível com a busca dos resultados e a diminuição da violência na cidade. As reuniões contavam com “100 policiais de cada vez, abrangendo todos os níveis da hierarquia, além de representantes do sistema de Justiça criminal, reunidos numa grande sala para a análise minuciosa dos números mais relevantes”. Reportagem do New York Times publicada à época atestava que “as reuniões regulares do Compstat são provavelmente o mecanismo de controle mais poderoso já concebido para a polícia”.

3) Prestação de contas. Segundo Giuliani, “até a implementação do Compstat qualquer um que apresentasse mau desempenho podia simplesmente dar de ombros e alegar: ‘Não se pode fazer nada, a cidade é ingovernável’. Não se falava em prestação de contas. Com um sistema que comprovou a viabilidade da obtenção de resultados, a desculpa perdeu a validade. O Compstat foi realmente um choque cultural”.

Para concluir, uma lição do prefeito Giuliani: “O mote de duas palavras em minha escrivaninha resume com fidelidade toda a minha filosofia: sou responsável. Durante minha carreira, preservei este senso de prestação de contas – a ideia de que quem trabalha para mim deve explicações às pessoas para as quais trabalhamos – esta é a pedra angular. E este princípio começa comigo”.

E quem sabe um dia, com a violência sob controle, a segurança pública bem administrada, com policiais valorizados e dignamente remunerados, possamos ler nas viaturas operando em Goiás dizeres inspirados naqueles gravados em todos os carros da polícia de Nova York, dizeres que tanto orgulham os cidadãos, além dos homens e mulheres da lei, daquela grande cidade: “Cortesia. Profissionalismo. Respeito”.

* Marcelo Melgaço é especialista em gestão estratégica

Fonte: Jornal O Popular

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