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Sociedade enferma confia e espera

Por Altamir Vieira*
Tudo leva a crer que a sociedade esteja doente ou com sintomas de uma enfermidade degenerativa em todos os tecidos. O pior é que ela se alastra por falta de remédios eficazes, o que faz pensar que a corrupção e a impunidade estão anestesiando o paciente. Há pouco, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (Unodc) posicionou o Brasil no 26º lugar no ranking dos países onde mais ocorrem crimes de homicídio no mundo. E olhem que o que está em foco é a vida humana.
Para não ir longe, nós aqui de Goiás temos bem viva na mente a lembrança do caso ocorrido há pouco em Piracanjuba, onde o acadêmico de engenharia ambiental Marcos César e, Fernando Alves, ex-empregado da empresa da família do primeiro, foram condenados pela morte de Juliene de Souza e seu filho Nicolas, de 10 meses, fruto de um relacionamento com Marcos.
As vítimas foram mortas a golpes de ferro e sepultadas em cova rasa, porque a mãe da criança exigia uma colaboração financeira para ajudar a criar o filho, o que foi negado pelo pai. A pena de 56 anos de prisão para este e de 59 anos para o cúmplice, parece que atendeu à expectativa da sociedade.
É, porém, impossível de se mensurar o grau de covardia, perversidade e frieza dos autores, bem como a dor eterna dos familiares. O que todos sabem é que logo, logo, os reeducandos (nome elegante para autores de crimes hediondos) serão beneficiados pela progressão da pena por bom comportamento e dias trabalhados e deixam a prisão pelo portão principal e talvez com a Bíblia debaixo do braço. Legalmente, estarão sendo considerados aptos a viver em sociedade.
A propósito da condição social e econômica do acadêmico de engenharia ambiental Marcos César de Oliveira Júnior, de 24 anos, é preciso observar que o levantamento do Escritório das Nações Unidas assegura “que países com grandes disparidades nos níveis são quatro vezes mais sujeitos a ter taxas maiores de mortes violentas do que sociedades mais igualitárias”
O problema é complexo e não adianta culpar o Poder Judiciário, a Secretaria de Segurança Pública, a diretoria da Polícia Civil ou o comando da Polícia Militar. Segundo o secretário executivo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, as altas taxas de homicídios no Brasil não podem ser associada somente à condições de desenvolvimento econômico ou de pobreza. Há o tráfico de drogas, o crime organizado, a baixa remuneração dos policiais, além das altas taxas de corrupção policial e fora dele.
Aliás, não é sem razão que as marchas contra a corrupção estão eclodindo em todo o País. É isso que está deixando a sociedade enferma de forma tão grave. Que venham as marchas salvadoras.

*Altamir Vieira é jornalista

Fonte: Jornal O Popular

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