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Quem disse que seria fácil?

Por Fabiana Pulcineli*
Em um vaivém de propostas e com tiros para todos os lados, o governo de Goiás entra no segundo semestre ainda sem solução para o principal gargalo do Estado: a dívida bilionária da Celg. Já se falou em empréstimo, parcerias, privatização, federalização e acerto com o governo federal, mas o resultado não veio de “forma rápida e eficiente” como prometeu o governador Marconi Perillo (PSDB) no ano passado, ao atuar fortemente contra a negociação com o governo federal, que previa R$ 3,7 bilhões de empréstimo para o Estado.
Há quem diga no governo estadual que já pintou arrependimento pela resistência ao acordo articulado pelo ex-governador Alcides Rodrigues (PP), que previa repasse de R$ 2,5 bilhões do empréstimo já na gestão tucana. A essa altura, o governo já teria quitado as dívidas com o setor elétrico, a Celg já teria recebido recursos federais e obtido autorização para aumentar a tarifa e o ICMS da companhia estaria sendo pago regularmente ao Estado.
Marconi diz que não se arrepende porque os recursos seriam utilizados para “beneficiar amigos” do governo anterior. Claro que pesou também a vaidade em não permitir que, dez anos depois de sucessivas negociações, o ex-governador pepista ficasse com o mérito de ter encontrado a solução para a companhia.
Mas são águas passadas. O fato hoje é que o governo vem sentindo o tamanho da dependência do governo federal na questão Celg e, mais ainda, o peso da questão política nas conversas. Vale voltar ao passado neste caso para lembrar que o acordo definitivo para a Celg só foi anunciado na reunião com o ex-presidente Lula em que Alcides bateu o martelo sobre apoio a Iris Rezende (PMDB) no segundo turno das eleições ao governo estadual.
Na primeira reunião com o Ministério de Minas e Energia e a Eletrobras, em janeiro deste ano, quando apresentou a primeira proposta ao governo federal, Marconi ouviu a cobrança por ter sido contrário ao acordo no ano passado. Essa resistência ainda se mantém, embora Marconi e aliados afirmem que já foi superada com os argumentos apresentados.
O próprio governador disse, em entrevista ao POPULAR em abril, que o problema nos primeiros meses de conversa “foi muito mais político do que técnico, afinal de contas fui eleito por um partido e por uma aliança e o governo da presidente Dilma foi eleito por outra”. O presidente da Celg, José Eliton, que teve na semana passada uma nova reunião na Eletrobras, quando deu por encerradas as discussões técnicas, admite que o acordo passará pela questão política. “Claro que toda negociação desse porte depende de boa vontade política”, diz.
O governo federal não vai facilitar. Se os termos do acordo no passado eram aparentemente favoráveis, com transferência de apenas 8% das ações da companhia, agora a estatal federal quer abocanhar 66% do capital acionário. E nisso não pesa só a questão política, mas a gravidade da situação da empresa, a proximidade do prazo de fim da concessão (que termina em 2015) e o fracasso nas tentativas de acordos com outras empresas.
O governo estadual alardeou, por exemplo, interesse da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e de outros grupos na compra de ações da Celg. No entanto, na Cemig, a resistência é forte, com críticas por parte dos acionistas. Tanto que a companhia contratou consultoria para avaliar a viabilidade do investimento. Tanto que, depois disso, o governo estadual já revelou que prioriza a negociação com a Eletrobras, que dispensaria a entrada de outros parceiros.
A complexidade técnica e o peso político explicam a demora no acerto em favor da Celg. Marconi sabia disso, já que tentou, sem sucesso, encontrar saídas para a empresa nos dois mandatos anteriores, quando, aliás, o governo federal era aliado. Foi assim também na gestão de Alcides, que, aliado do governo Lula, passou quatro anos articulando o formato do acerto que considerava mais adequado.
Enquanto isso, o endividamento da empresa goiana cresce em média 10% ao ano e já atingiu R$ 6,25 bilhões, ao mesmo tempo em que o consumo sobe 9,5% anualmente e a demanda da iniciativa privada aumenta consideravelmente. Os investimentos caem ano a ano, a receita do Estado fica prejudicada – já que somente 60% do ICMS tem sido repassado – e o quadro de funcionários reclama que não tem reposição salarial há três anos. Enquanto as autoridades políticas não se entendem, mais dinheiro do povo goiano sai pelo ralo.

* Fabiana Pulcineli é repórter de Política. E-mail: [email protected]

Fonte: Jornal O Popular

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