Quando o impossível se torna possível
Por Herbert Moraes
As notícias sobre a morte de Steve Jobs, o fundador da Apple, se espalharam pela Internet tão rápido quanto a procura pelo novo iPhone 4S. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que Jobs foi o americano mais inovador de toda uma geração: “Corajoso por pensar diferente, por acreditar que poderia mudar o mundo e talentoso o suficiente para fazê-lo”. Tecnologias criadas por Steve Jobs chegam a ser inspiradoras — como o MacBook, o iPhone e o iPad, que de alguma forma revolucionaram o mundo moderno.
A carreira de sucesso começou no início dos anos 80, quando Steve Jobs fez uma revolução apresentar o Macintosh, um dos primeiros notebooks. Comercialmente, um sucesso. O design, tamanho, o mouse — destaques. A partir daí, mudamos a forma de usar o computador e Jobs conquistou o mundo. Mas o sucesso durou pouco, e em 1985 ele foi demitido da Apple. Na época chegou a dizer: “A alegria do sucesso foi substituída pela sensação de ter de recomeçar novamente e este foi um dos períodos mais criativos da minha vida”.
Quando voltou para a empresa, 11 anos depois, Jobs ressuscitou a companhia que estava à beira da falência e introduziu uma série de produtos que mais uma vez mudou o nosso jeito de pensar a tecnologia. E o mundo foi conquistado de novo.
Jobs foi o Thomas Edison do nosso tempo, e é assim que vai ser sempre lembrado: um gênio com uma incrível capacidade de inovar e de dividir suas inovações com o mundo. Jobs era dudista, e acreditava que o conhecimento tinha de ser dividido, compartilhado.
A morte do fundador da Apple também foi lembrada em Israel, que possui a maior filial da companhia fora dos Estados Unidos. Um dia antes, os israelenses comemoravam o Prêmio Nobel de Química conquistado pelo professor Dan Schetman, da Universidade de Tel Aviv. Este foi o décimo Prêmio Nobel concedido a um cientista israelense, o sexto em apenas dez anos. Um momento de exaltação nacional.
“No livro ‘A Ilha Misteriosa’, Júlio Verne descreve como um engenheiro transformou uma ilha árida num jardim deslumbrante. Quando criança, li esse livro 25 vezes e pensava exatamente assim: alguém que transforma tudo a partir do nada. Mas eu nunca imaginei que este desejo pudesse um dia ganhar o mais importante reconhecimento da ciência. Quando estou na sala de aula, ensino aos meus alunos que, se quiserem ser cientistas de sucesso, devem contribuir para o bem da humanidade. Eles têm de ser os melhores, experts no que fazem. Mas um bom cientista também deve ter fé”, disse o vencedor do Prêmio Nobel de Química de 2011.
Schetman é casado com uma professora de psicologia, tem três filhas e três netos. A família, apesar de apoiá-lo nas experiências e dedicação, até hoje não conseguiu entender o significado do seu trabalho. Em 1982, o cientista observou uma nova estrutura química. Um quasicristal de forma pentagonal. A comunidade científica na época duvidou. Acreditava-se que os cristais que compõem o átomo eram de uma única forma. Foram necessários 29 anos para que a pesquisa do cientista israelense fosse reconhecida.
“É bom lembrar que o Prêmio Nobel é importante, mas não é o principal”, afirmou o modesto cientista.
Dan Schetman é judeu, e o espírito da criatividade é um dos temas centrais do judaísmo. Judeus religiosos dizem que, quando cria, o homem está exaltando a Deus, o Criador, e assim torna-se uma continuação da criação divina. A morte de Steve Jobs se deu exatamente no último dia dos “10 dias de arrependimento” em que judeus do mundo todo param para refletir e que culminam com o Yom Kipur, o dia do perdão. Trata-se da data mais sagrada do judaísmo. Uma época em que é dado aos judeus o momento de literalmente pensar na vida. No que fizeram de bom e de ruim, e o que podem fazer para se tornar melhores seres humanos. A vida e o legado desses dois gênios nos ensina o quanto o homem pode alcançar, independentemente da religião. Steve Jobs e Dan Schetman entram para a galeria de homens que, de alguma forma, mudaram o rumo da humanidade.
Fonte: Jornal Opção