Passando o Brasil a limpo
Por João Campos*
A corrupção alastrada na administração pública, notadamente nas suas relações com a iniciativa privada, provoca um rombo que ultrapassa o valor de R$ 60 bilhões por ano, conforme levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), apresentado em 2010, mas tendo como ano base 2008. De lá para cá, pouca coisa mudou, apesar do aprimoramento das ferramentas de fiscalização e controle de gastos do dinheiro público.
Os escândalos que vieram a público e assustaram o País, pelo tamanho do buraco financeiro provocado, moldaram nos brasileiros um novo comportamento social. O recado dado através das manifestações populares serve de alerta para o homem público que faz da sua atividade uma ponte para o caminho da corrupção.
Ainda de acordo com o levantamento apresentado pela Fiesp, com base em um trabalho elaborado pela ONG Transparência Internacional, entre 180 países, o Brasil figurou como o 75º colocado no ranking da corrupção. Numa escala de zero a 10, considerando que os números mais altos indicam os países menos corruptos, o Brasil recebeu nota 3,7, enquanto a média mundial ficou em 4,3. O valor desviado daria para aumentar em 16 milhões o número de alunos matriculados na rede pública de ensino, construção de 327 mil leitos nos hospitais e de 3 milhões de moradias, investimento de saneamento básico em 23 milhões de casas, além outros tantos benefícios sociais.
Conforme consta dos dados levantados, o custo médio anual da corrupção no Brasil ficou entre 1,38% a 2,3% do Produto Interno Bruto, naquele ano, o que resultou numa conta perdida em torno de R$ 41,5 bilhões a R$ 69,1 bilhões, valores jogados pelo ralo da corrupção. No ano passado, a mesma ONG Transparência Internacional que serviu de base para os levantamentos feitos pela Fiesp, colocou o Brasil em 69º entre 176 países, conforme a metodologia adotada como instrumento na pesquisa no Índice de Percepção da Corrupção. O Brasil recebeu a nota 43, numa escala de zero a 100, o que o colocou empatado com a Macedônia e a África do Sul. Entre os países da América do Sul, ficou atrás do Chile e Uruguai, tradicionalmente menos corruptos do que nosso País.
Apesar da imagem ruim que construímos lá fora e da insatisfação popular, já temos condições de empregar medidas legais mais eficazes para começar a desfazer o quadro atual e iniciar uma nova história no caminho da moralidade. A revolta dos brasileiros, vista nos movimentos sociais que ocuparam as ruas para exigir mudanças, é um recado claro que precisa ser entendido ao pé da letra. A corrupção foi a tônica das vozes de um povo que já não aguenta mais tanta bandalheira com o dinheiro que sai às escondidas dos cofres públicos e que falta para investimentos em áreas vitais da sociedade, como segurança, educação, moradia, saúde, saneamento básico, estradas e outros.
A recente aprovação, pelo Senado, do projeto de lei que torna a corrupção crime hediondo, nos mesmos moldes do projeto que apresentamos em 2012, na Câmara Federal, foi um passo importante para a mudança de comportamento dos que fazem da atividade pública um trampolim para construir fortuna. Nas negociatas feitas, o dinheiro do povo sai pela porta dos fundos dos gabinetes dos lobos que se camuflam em pele de cordeiros. O receio da pena mais dura, dando à corrupção o mesmo tratamento dos crimes de sequestro, homicídios, tráfico de drogas e outros, deve levar os corruptos e corruptores, a repensarem práticas tão repudiadas.
O gigante acordou e vai devorar quem não seguir as regras da moralidade e da probidade públicas. Pelo novo ordenamento, até as pessoas jurídicas, parte integrante do processo de corrupção, conforme projeto aprovado recentemente, passarão a ser punidos. O povo quer um Brasil de cara limpa e, com toda razão, vai continuar cobrando uma conta alta por isso.
*João Campos é deputado federal
Fonte: Jornal O Popular