Outros trechos sobre suicídio
Por Natalício Cardoso da Silva*
A morte em si, a morte natural ou por acidente, quando chega no prazo fixado por DEUS, nada tem de aterrador, se a pessoa cumpriu bem a sua missão na terra.
Não acontece o mesmo com os que sematam _ não importa quem hajam sido na terra, não importam os diplomas, títulos, religião a que tenham pertencido. O suicídio é sempre cobrado de maneira muito amarga. Nunca se ouviu falar de um suicida que tenha “virado santo”, ou que haja “ganhado o céu”. As noticias que nos chegam dos que se matam é sempre um rosário de dores, lamentações e remorsos.
Vejamos alguns resumos simplificados e adaptados de depoimentos:
Dr. Raul Martins _ juiz integro, inteligente, católico fervoroso. Suicidou em 21 de novembro de l920. Trinta e três meses após, ele próprio conta suas experiências. Vejamos alguns trechos:
“O candidato a suicídio se ilude, supondo que vai se libertar das dores, das tristezas, das misérias. Que trágica ilusão!
Eu também me enganei _ e, longe de diminuir o sofrimento, ele aumentou e se tornou muito mais profundo aqui no espaço, onde não noite nem dia, onde não se pode dormir, pelo menos…
São milhões os desgraçados que como eu, debatem-se nas trevas da amargura _ amargura que, além de tudo, é inútil, porque ninguém morre. Aqui se vive, mais vivo que nunca. Aqui sim, sofre-se!
Sejam fortes vocês, que estão lendo estas páginas! Quando forem vítimas do sofrimento, afugentem a ideia do suicídio porque se nele caírem, será aberto diante de seus pés, o mais tenebroso inferno!”
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Sra. F. suicida no Rio de Janeiro, aos 32 anos de idade. Deixou marido e um filho pequenino. Matou-se ingerindo formicida. Depois de 14 anos, ela conta:
“Logo que a morte aconteceu, eu não podia mover um dedo _ mas permaneci lúcida o tempo todo. Ouvia os lamentos do meu marido e o choro do meu filho. Os remorsos vieram logo em seguida.
Quando o corpo saiu para o necrotério, tentei permanecer em casa, mas não pude. Era como se eu estivesse amarrada ao cadáver. Chorando feito louca, notei estar sendo levada a uma mesa, para autopsia.
Vi-me sem roupas, completamente nua e tremi de vergonha. Vergonha e terror, ao ver dois homens me abrindo a barriga, sem a menor cerimônia. Não sei o que doía mais: se a vergonha por me ver sem roupas, em frente a estranhos que me retalhavam, ou se ador que sentia a cada golpe do instrumento cortante que me rasgava a carne.
Eu, que horas antes estava no conforto da minha casa, tive de suportar as duchas de água fria nos órgãos expostos, igual a um porco morto.
Assisti ao meu próprio enterro, com um terror difícil de ser imaginado. Depois, senti-me embaixo da terra, como se estivesse enterrada viva. Debatia-me, querendo sair daquele lugar abafado, escuro e cheio de lodo.
Não sei por quanto tempo estive na cela do sepulcro vendo, hora a hora, a decomposição dos meus restos.
Depois de muito tempo, consegui me levantar. Estava com fome, com sede, fraca e machucada. Nisso, vi-me cercada por uma legião de espíritos maus que me deram voz de prisão disseram que o suicídio é falta grave, que eu seria julgada e deveria acompanhá-los ao tribunal. Obedeci. Logo após, estava encarcerada em tenebrosa caverna, onde já choravam muitas outras vitimas.
Aqueles malfeitores abusaram de mim, da minha condição de mulher, sem noção alguma de respeito ou piedade.
Só depois de muito tempo, depois de muito remorso e oração, obtive o socorro dos espíritos elevados, que me internaram em lugar de tratamento.
Após me sentir melhor, pedi permissão para visitar minha casa, marido e filho. Mas, tremenda surpresa!
Eu, que me matei por ciumes do meu marido, vi-o casado outra vez, justamente com a rival que eu detestava! Em nada adiantou o meu suplicio!
Sofri muito em meu orgulho abatido. Hoje porém, já percebo que aquela mulher possui muitas qualidades. Eu a amo, como se ama a uma irmã e a agradeço por dar ao meu filho, os carinhos que me recusei a dar.”
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Luís Alves – enfermeiro sem família. A solidão e a pobreza o levaram ao suicídio com um tiro no coração, aos 30 anos de idade. Depois de 26 anos, ele relata seus padecimentos. Eis alguns trechos:
“Depois da morte, me vi vivo, ligado ao corpo! Por não ter parentes nem amigos que fizessem o enterro, meu cadáver foi entregue, como indigente, a uma escola de medicina, servindo de cobaia aos estudantes, futuro médicos.
Como já disse, minha alma estava ligada ao corpo. Eu tentava me afastar, mas continuava colado à carne, sentindo tudo o que se passava com o cadáver, como se estivesse vivo.
Meu corpo levantou grande curiosidade, porque meus tecidos, meus músculo, minhas víscera, minha pele, tinham aspecto diferente dos demais cadáveres. Dezenas de médicos estudavam o meu corpo e se sentiam indecisos, dizendo que ele era mais consistente, mais vivo, não se deteriorava com a mesma facilidade com que estavam acostumados a ver. Mal sabiam eles que a minha presença constante era quem mantinha meu corpo com aquele aspecto.
Ninguém da terra pode calcular o martírio de um espirito preso ao corpo, sendo indefinidamente molestado como eu fui, por aqueles estudiosos de anatomia.
Fui aberto, cortado, retalhado em todos os órgãos, em cada centimentro de pele. Eu gritava de dor, chorava, reclamava, mas ninguém me ouvia. _ nem sabiam que eu estava ali.
Eu ouvia o que diziam a meu respeito _ alguns, tinham palavras de carinho para comigo _ e outros, sacudiam-me de vergonha e sofrimento, com pensamento e palavras que me ofendiam e feriam minha triste nudez.
Com o passar do tempo, as carnes foram sendo desgastadas _ e somente o esqueleto ficou. Alguns professores e médicos que haviam se afeiçoado ao meu caso particular, guardaram-no, por ser original, firme, diferente dos demais. E continuei na minha prisão de ossos.
Quase sempre, novos aprendizes e estudiosos vinham fazer estudos sobre a minha carcaça. Mas o pior eram as outras visitas que recebia dos espíritos inferiores, seres satânicos, que zombavam de mim, rindo às gargalhadas do meu estado de prisioneiro.
Vinte e seis anos de sofrimento!
Assim que pude me libertar, o esqueleto, sem minha sustentação, caiu no piso da sala, fazendo-se em pedaços; e um velho professor mandou que fosse queimado…
Finalmente, como um passarinho, eu estava livre da minha gaiola de ossos!”
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Antero de Quental, grande poeta português suicidou-se aos 49 anos de idade, em 11 de setembro de l891. Suas amarguras foram muitas, pois uma doença o impedia de ter filhos e de constituir família. Vivendo entre moços alegres e sadios, que faziam planos para o futuro e os realizavam, apenas a ele era negada tal felicidade. O que você vai ler agora é um resumo do que foi escrito por ele próprio, dezesseis anos após seu suicídio.
“Venho cumprir minha obrigação de levar aos tristes da terra, um pouco da experiência que adquiri, depois de tanto sofrer.
Muitas vitimas de doenças incuráveis ou de desgostos, passam a odiar a vida e anseiam pela morte. Parece que sentem doloroso prazer em aumentar em si mesmos as causando seu sofrimento, inventando novos males, novos motivos de dor, agarrando-se aos que já existem, mostrando sua fraqueza com lamentos amargurados, criando uma atmosfera de tristeza, que parece não acabar, parece não ter fim, a não ser com a morte.
Quando o sofredor pensa em suicídio, este ato maldito fica desde logo na sua cabeça, como esperança sorridente! Não se pensa mais com paciência, calma e resignação. Não se pensa nas pessoas amadas.
Nós, os suicidas, desprezamos todos os recursos que Deus nos forneceu para sairmos vitoriosos das amarguras.
A tentação do suicídio é um pesadelo que nos toma acordados. Apossa-se de nós, nos domina, sem nos deixar pensamento algum de esperança. Mas, mesmo a estes, Deus envia socorro, na forma de pequenas esperanças, pequenos incidentes que, olhando com carinho, ver-se-ia neles, a mão do Criador, nos auxiliando _ e a ideia do suicídio seria abandonada.
Quantos que me lerem, não terão passado por isso?
Infelizmente, quando tais ajudas divinas acontecem, nós preferimos ignorá-las, por serem pequenas demais ao nosso “tão grande” sofrimento. E, desvairados, colocamos um ponto final na vida. Um puco mais de calma e a tempestade teria passado…
Eu fui um destes. Cada nova desilusão me fazia alimentar com maior carinho, a ideia do suicídio. Por fim, já nem mais precisava de motivos. Eu os inventava, naquela vontade louca de me torturar.
Sentia alguns alarmes da consciência _ e não percebia que estes alarmes eram a grande mão de Deus afastando de mim, os planos de morte. Era Ele, pedindo-me calam e paciência.
Por fim, consegui calar a voz da consciência. Eu escondia de todos, o meu desejo louco de morrer, com receio que me convencessem do contrario. E, vencido, tomado da máxima covardia, cedi.
E dizem que o suicídio não é covardia!
O suicida foge da vida. E quem foge é um covarde!
Não me digam também que, para o suicídio, é preciso coragem.
Não! Quem se mata não busca a morte. Busca é uma libertação para o sofrimento e a fuga da luta que não somos fortes para sustentar. Eu cedi a esta fraqueza e sofro agora, a consequência.
Ah, se soubessem os que me lêem, o preço que se paga por esta covardia, ninguém se suicidaria.
Os maiores martírios da terra são doces consolações quando comparados aos mais suaves sofrimentos de um suicida.”
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E hás os que buscam o suicídio, para se juntarem ao ser amado que morreu! Ah, se soubessem que, assim, sem fé, sem confiança em Deus, estão apenas prolongando por séculos até, o tão sonhado reencontro!
Júlio César Machado, escritor lusitano. Ele possuía um filho _ Julinho _ que era toda a sua felicidade. A criança morreu e o pai suicidou-se, para ir mais depressa ao seu encontro. Eis as palavras do próprio pai, quando conseguiu se comunicar com a terra:
“Não podia viver sem ele e sai à sua procura _ mas, a morte me envolveu e me arrastou. Fui levado por um turbilhão. Fui levado a regiões medonhas. Outras vezes, voltava sem querer, aos lugares de onde queria fugir e onde tudo me fazia lembrar minha desgraça, não conseguindo a mais leve indicação sobre o meu filho. E nem tinha a esperança de morrer porque, para mim, a morte não existia mais.
Até hoje corro, debato-me a gritar, a gritar sempre pelo meu adorado filho _ e ele não me chega nunca.
Eu que me matei porque não podia viver sem ele, tenho de viver sem ele, porque me matei!
Não o verei mais? Horror! Horror! Mil vezes horror!
Haverá justiça nesta condenação? Quem é o juiz que não viu que, se eu buscava a morte, era porque minha vida, sem ele não era vida? Era crime amá-lo tanto? Mas se o amor a um filho é crime, porque Deus nos deu o amor?
Perdoai, Senhor, se blasfemo. Mas ó, Deus! Tu que és bom, por que não me perdoas? Não vês que a tentação armou meu braço? Que a tentação me levou a morte?
Mas se não posso ver meu filho, por que mo deste, Senhor? Se eu tinha de perder a felicidade, por que me mostraste? Que eu viva o tormento eterno; que eu me revolva nas agonias da dor, mas deixa-me ver meu filho! Que eu o veja uma única vez e Te bendirei o nome!
Vejamos como a prece é um fator de enorme ajuda aos suicidas:
A Sra. Maura Araújo Javarini suicidou-se em 11 de maio de 1932, na cidade de S. José do Rio Preto. Sua morte foi por envenenamento. Depois de 29 anos, ela psicografou uma mensagem à terra. É importante o seguinte trecho de sua mensagem: – “Foram as preces de meu pobre João (seu marido) e dos nossos irmãos Antônio Marino e Faride Mussi, que me levantaram…” (Livro: Vida no Além _ Francisco Cândido Xavier).
Assim, podemos afirmar duas coisas:
1 _ O suicida sabe quem está lhe enviando preces;
2 _ As orações os auxiliam muito, colaborando com seu adiantamento e alivio. Quando nossas orações são enviadas a Deus, em beneficio deles, há como que uma pausa em suas agonias;conseguem uma atmosfera de paz em torno de si, conseguem se lembrar de Deus e orar. O único momento que os suicidas tem tréguas é quando alguém daqui lhes envia orações e pensamentos de paz.
Ao finalizar estes textos sobre suicídio, agradeço a professora Cleunice Orlandi de Lima, pelo incentivo na divulgação deste material.
Que Deus abençoe a todos.
**Natalício Cardoso da Silva é Delegado Regional da Polícia Civil de Goiás