O insustentável peso de viver
Por Edemundo Dias*
A Agência France Press divulgou os dados mais recentes sobre suicídios da Organização Mundial de Saúde (OMS): um milhão de pessoas por ano se suicidam no mundo (quantidade maior que a combinação de vítimas de guerras e homicídios); a cada 40 segundos uma pessoa se suicida; a tentativa de suicídio ultrapassa 20 milhões por ano; em vários países, a taxa de suicídio aumentou em 60%, e já é a segunda causa de morte entre os adolescentes de 15 a 19 anos. No Brasil, embora não haja uma tradição histórica suicida expressiva, recentes estudos do Ministério da Justiça revelaram que os suicídios cresceram 17% na última década, mormente entre jovens com idade entre 15 e 24 anos, atrás apenas dos homicídios e dos acidentes de trânsito.
Entretanto, a tese central da equação dramática revelada não é o efeito, e sim, a causa. O que vem por trás dessa progressão geométrica apavorante? Ora, o mundo é cada vez mais um imenso hospício suspenso no ar. As clínicas de psicologia e psiquiatria estão superlotadas, os hospitais de tratamento terapêuticos abarrotados, as cadeias não suportam mais a quantidade de algozes – pontas de lança desse colossal manicômio.
Sem falar da dependência química – vista como a mais terrível doença dos nossos dias –, desafio a qualquer profissional de saúde mental capaz de repetir de cor os diversos transtornos que se acometem sobre seus milhões de pacientes: amnésia, anorexia, bulimia, compulsão, demência, delírio, depressão, esquizofrenia, histeria, masoquismo, sadismo, transtorno bipolar… Isto sem mencionar as dezenas de síndromes: neurovegetativas, do pânico, e até do miado do gato…
Além disso, a loucura das pessoas tidas como mentalmente sadias é pior do que a loucura das pessoas portadoras de transtornos mentais de fato, porque é uma loucura consciente, dolosa, inclusive a loucura da indiferença, a pior de todas as elas.
Enquanto isso… A indústria da saúde não cura; a indústria da segurança não segura; a indústria farmacêutica não aplaca a dor. Antes, lucram todos com essa loucura toda, e a TV vê, te vê e te mostra, para alucinadamente também lucrar.
O que fazer diante desse quadro aterrador? Parar o mundo e descer, como sugere a canção de Raul Seixas? Ou se render como João Cabral de Melo Neto, em Morte e Vida Severina: “É difícil defender, só com palavras, a vida, ainda mais quando ela é esta que vê, severina”? Ou ainda, ficar com a pureza da resposta das crianças como Gonzaguinha, ao cantar que a vida, apesar de tudo, “é bonita, é bonita e é bonita”?
Todavia, ouso ir além, muito além, para dizer que o Deus das Escrituras Sagradas tem respostas antes certeiras e, por certo eficazes, para satisfazer o desconforto existencial inato ao homem em relação à ansiedade ou ao tédio que leva à morte: os argumentos da bendita esperança, da multiforme graça e do inefável amor de Cristo.
*Edemundo Dias de Oliveira Filho é presidente da Agência de Execução Penal do Estado, pastor evangélico
Fonte: Jornal O Popular