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O grito dos jovens

O grito dos jovensPor Cileide Alves*
O tumulto generalizado seguido de susto e pânico que tomou conta de lojistas e frequentadores do Buriti Shopping, no sábado, dia 9, chamou a atenção por seu lado óbvio, ou seja, a violência. Segundo a polícia, tudo começou com a organização, por meio das redes sociais, de um grande encontro de jovens marcado para acontecer no centro de compras.

Diante de dois ingredientes aparentemente explosivos (manifestação de jovens dentro de um centro de compras lotado), a polícia montou uma grande operação para tentar evitar o pior, mas ainda assim houve confusão e o shopping foi fechado.

Dois dias depois, O POPULAR revelou que aquela não havia sido a primeira ação da polícia para evitar manifestações em shoppings de Goiânia. Com sistemas próprios de monitoramento de redes sociais, o Flamboyant e o Goiânia Shopping já haviam pedido, em épocas diferentes, ajuda da polícia para abortar encontros de jovens em suas áreas.

A sociedade está muito assustada com a violência. Trancafiou-se em casas cercadas de muros e sistemas de segurança e dentro de centros de compras. Acredita que construiu um mundo seguro longe das ruas, mas descobre, em fatos como esses, que essa segurança é ilusória. Além de não lhe garantir a proteção desejada, esse estilo de vida pode ser a causa de efeitos colaterais indesejáveis.

As ruas sempre foram o local do encontro, da convivência social, onde crianças e jovens de gerações passadas se conheciam, adquiriam experiência e se abriam para o desconhecido e o novo. Hoje a rua virou apenas o lugar do medo, de onde se deve fugir, onde o único encontro possível é com a tragédia. Sem esse espaço, os jovens de hoje ficaram sem lugar de convivência. Crianças e adolescentes vivem trancados em seus quartos, se relacionando apenas com o mundo virtual, em encontros sempre mediados por uma tela.

Mas isso não supre suas necessidades de encontro. Em entrevista à edição de junho da revista Plural, o psicanalista Jorge Forbes afirmou que as pessoas “têm uma necessidade fundamental de estarem juntas” e que é falso pensar que na pós-modernidade e na época da internet elas queiram ficar isoladas.

O psicanalista cita a balada como exemplo de local onde os jovens se encontram na atualidade. “(A balada) é uma praça pública da pós-modernidade nos fins de semana para a juventude se encontrar.” Cada vez mais acuados em seus espaços individuais, e sem oportunidade de encontros em locais apropriados, sobram poucas oportunidades para os jovens brasileiros realizarem essa necessidade fundamental.

Olhando por esse aspecto, talvez seja possível entender o que leva jovens a tentar promover esses encontros nesta “praça pública da pós-modernidade” que é um shopping center e também por que a epidemia da droga avança em alta velocidade entre esse público. Por tudo isso o tumulto no Buriti Shopping não pode ser visto apenas como mero ato de violência próprio de uma grande cidade, mas também como sintoma de uma geração que grita sua angústia em praça pública.

* Cileide Alves é jornalista e editora chefe do jornal O Popular

Fonte: Jornal O Popular

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