Nunca se falou tanto em drogas
Por Norton Luiz Ferreira*
Nunca se falou tanto em drogas. Qualquer meio de comunicação que a gente assiste, lê ou ouve, diariamente elas estão lá estampadas, se destacando entre as matérias policiais resultantes dos conflitos sociais do dia a dia. Parece que tudo gira em torno das drogas. Jornais impressos, rádios, TVs e internet mostram um cotidiano que reflete uma triste realidade. Em se tratando de mortes, os números beiram o absurdo. Direta ou indiretamente, nas circunstâncias motivadoras dos assassinatos, as drogas respondem até por 80% das vidas perdidas nesse jogo em que o ser humano vale o preço de uma pedra de crack. No mundo das drogas é assim: seja qual for o valor da dívida com um traficante, mesmo os 10 reais de uma pequena pedra de crack, a vida compensa o débito.
Os governos reagem, anunciando ações mais contundentes na repressão às drogas, na adoção de programas sociais voltados à recuperação de dependentes químicos e na conscientização de que o consumo de drogas leva o usuário à autoflagelação, à rejeição social e a um caminho que pode não ter volta. Uma pedra de crack, apresentada ao iniciante como inofensiva, é o começo do fim. É o bastante para viciar. Muitos que enveredaram por esse caminho querem voltar. Querem, mas não conseguem. Outros, já perderam a consciência do mundo que deixaram para trás. Perderam tudo. A dignidade, a saúde, a referência de família e se tornaram molambos perdidos nas ruas, cometendo de crimes de pequena monta até os mais horrendos para manter o vício.
O governo federal anunciou recentemente investimentos de bilhões no combate às drogas, com foco principal no crack. Em Goiás, o governo demonstra a consciência de que é preciso investir na recuperação de viciados e na repressão policial. Os anunciados Centros de Recuperação de Dependentes Químicos, os Credeqs, representam um avanço nos propósitos desse governo, de olho em um quadro social menos dolorido. Assim, deixa claro uma visão macro, realista e responsável diante de uma questão que chegou ao fundo poço. Só as famílias que têm viciados em casa sabem muito bem o alcance da dor e o quanto medidas recuperadoras são bem vindas.
Mortes e violência de toda ordem motivadas pelo tráfico de drogas ocupam preciosos espaços na mídia, que cumpre fielmente o seu papel de relatar os desajustes sociais, o que soa como um sinal de alerta para que governos e sociedade reajam por mudanças. E reagir, especialmente contra o crack, droga barata, de alto poder de destruição e que de tão popular já é produzida em fundos de quintais, deve ser mesmo prioridade nas ações anunciadas. No mundo globalizado, as informações chegam aos lares em tempo real e estão ao alcance de todos. Em casa, na antessala do médico, do dentista, no trabalho e onde quer que estejam, as pessoas estão diante da notícia que não queriam ouvir, ver ou ler.
*Norton Luiz Ferreira é delegado de Polícia
Fonte: Jornal O Popular