Luz no fim do túnel
Por Cileide Alves
Os dados são do secretário de Finanças da prefeitura de Valparaíso, Sindiclai Patrício: o Distrito Federal (DF) tem 2,6 milhões de habitantes e seu orçamento anual é de R$ 33 bilhões; os municípios do Entorno do DF, população de 1,7 milhão de pessoas e suas prefeituras, têm orçamentos anuais de R$ 1,7 bilhão.
Essa disparidade ajuda a explicar parcialmente a grande diferença entre as duas localidades. Mas não diz tudo. Brasília e suas cidades satélites têm infraestrutura invejável e oferecem excelente qualidade de vida. Um oásis cercado por cidades extremamente pobres.
A realidade em Valparaíso e em Águas Lindas, dois desses municípios, mais do que assustadora, é surreal. Valparaíso, com apenas 17 anos, tem oficialmente 138 mil habitantes, mas a prefeitura suspeita que já sejam 180 mil, pois há em seu cadastro imobiliário 66 mil unidades habitacionais e comerciais. E pior, espera receber mais 50 mil novos moradores até o fim de 2014, já que há 20 mil imóveis em construção.
A cidade não tem zona rural, tudo foi ocupado. Seu lixão está na vizinha Cidade Ocidental. “Não temos onde colocar o nosso lixo”, diz a prefeita Lucimar Nascimento (PT), assustada com a realidade que encontrou em 1º de janeiro. A água não chega para toda a população e há déficit na rede municipal de 500 professores e de salas de aula para 5 mil alunos.
Em Águas Lindas, o cenário é ainda mais desolador, se é que é possível. A cidade de 15 anos tem 165 mil habitantes, mas a prefeitura conta 250 mil e calcula que chegará a 1 milhão até 2020, pois só um loteamento prevê receber 100 mil pessoas. Infraestrutura, entretanto, não há. Só 10% das ruas têm asfalto, assim mesmo a metade já virou buraco. A água, de poço artesiano, não chega para todos. Esgoto não há. Energia também é insuficiente.
A ocupação urbana chega a ser criminosa. Aconteceu por omissão e até com a cumplicidade entre prefeituras e empresas do setor imobiliário. Em Valparaíso e em Águas Lindas os novos prefeitos encontraram casos de alvará de construção liberados no mesmo dia da certidão de Habite-se. O setor imobiliário ganhou muito dinheiro e deixou a conta para a população.
A falta do Estado também é visível. Os moradores sentem de forma dolorosa a ausência do governo goiano, inclusive, na violência que dizima seus jovens. “Nós temos problemas demais e voto de menos”, diz um morador de Águas Lindas referindo-se ao fato da maioria da população ser de migrantes.
Essa combinação de falta de recursos, com omissão do poder público e má gestão de prefeitos associada a irregularidades administrativas e à expansão imobiliária estão na raiz desse novo mundo que surge das costelas de Goiás e no entorno do DF. Uma lugar esquecido que, entretanto, está se virando aos trancos e barrancos e, pelo que senti em dois dias de visita à região, vai se transformar em alguns anos. Resistência, a região tem e de sobra.
Fonte: Jornal O Popular