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Falta resposta à violência

Por João Lemes*

Na iminência de ficar sem o par de patins, o brinquedo preferido que acabara de ganhar de uma tia, a pequena M. reage e brada: “Meu patins não, moço, por favor, esse aí, não”. Seria uma cena comum não fosse a tensão e o desespero do momento. M. e sua família estavam sob a mira das armas de bandidos, que invadiram a propriedade rural onde eles moram e trabalham em um município da Grande Goiânia. Talvez pela reação inesperada, o caso dos patins teve final feliz, e a menina permaneceu com seu brinquedo preferido. Sofreram todos, porém, pressão psicológica sob ameaça das armas.

Ao ouvir o relato de parentes das vítimas do assalto, veio-me à mente a história do garoto Fábio (nome fictício) que não teve a mesma sorte e foi baleado na Região Noroeste da capital, na semana passada, quando se dirigia à escola, pelo simples fato de não estar de posse do celular, objeto de desejo do assaltante, também menor.

A onda de assaltos ganhou tamanha proporção que parece fazer parte da rotina das pessoas. O que assusta mais é a crueldade com que agem os bandidos. As famílias parecem já não saber para onde correr e a quem recorrer.

O depoimento da mãe de Fábio é bastante revelador: “Não estou acostumada a esse tipo de violência – ainda mais uma criança assaltando outra. É um absurdo. Na verdade, não tenho raiva desse menino, não sei o que ele passou para agir assim. Mas, de qualquer maneira, é assustador”, diz, ao acrescentar que pensa em deixar o País. Além da sua nacionalidade espanhola, a família por certo tem padrão de vida que permite tomar este tipo de decisão.

Famílias como a da menina M. também buscam um porto seguro. Assustadas com a violência – além de perder bens materiais, as pessoas na maioria das vezes são agredidas –, o caminho que encontram é migrar da zona rural para as cidades, geralmente para morar em bairros periféricos.

O número de assaltos a propriedades rurais, por sinal, cresce de maneira vertiginosa. Dia desses, chamado a dar sugestões sobre ocorrências de assaltos na zona rural de Senador Canedo, foi inevitável ouvir o comentário irônico do repórter diante dos relatos: “Pode deixar, vou lá e faço um flagrante na hora”.

A tarefa de reduzir os índices de criminalidade cabe principalmente ao Estado. É fato, porém, que a segurança no Estado, como de resto no País, é falha. De todo modo seria impossível colocar uma guarnição policial em cada esquina das cidades ou em cada porteira das propriedades rurais.

É preciso algo mais. O medo que assusta as pessoas vai além do ato de ser assaltado. A crônica policial está cheia de relatos de cenas de violência. Falta resposta para ações como a do menino do celular, atingido pelo simples fato de não ter um objeto de desejo do criminoso. E o mais grave: baleado por outro menino de 13 anos que estava de posse de uma arma.

*João Lemes é editor no Jornal O Popular

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