É cedo para comemorar
Por Fabiana Pulcineli*
“Daqui pra frente, ninguém mais nos segura”, disse o governador Marconi Perillo (PSDB) em discurso recente durante evento no Palácio Pedro Ludovico Teixeira. Marconi afirmava que boa parte dos problemas financeiros do Estado foi sanada nos sete primeiros meses de sua gestão.
O governador segue amanhã para a primeira viagem internacional do seu terceiro mandato propagandeando um cenário de superação de dificuldades, com avanços que considera positivos e cumprimento de parte das promessas de campanha.
Uma análise mais acurada, no entanto, mostra que o governo ainda está longe de vencer os obstáculos mais graves do Estado. Não é de hoje que a gestão do tucano explora a expertise em marketing e a competência para desviar o foco dos principais problemas.
Vejamos a questão da Celg. A estatal ainda não tem perspectiva de superar as dificuldades financeiras, que se acumulam há mais de dez anos, mas Marconi, assim como em seus mandatos anteriores, vende a imagem de equilíbrio na gestão da empresa.
“A Celg não é problema para o nosso governo, é solução”, disse em entrevista ao POPULAR há 20 dias, acusando a administração anterior, de Alcides Rodrigues (PP), de ter transformado a estatal em “bicho-de-sete-cabeças”. Ora, é inegável que uma empresa que acumula R$ 7 bilhões de dívidas é, sim, o principal gargalo do Estado, ainda que no primeiro semestre do ano tenha contraído menos empréstimos ou alcançado um porcentual maior de pagamento de ICMS ao Estado.
O governo busca interpretar números a seu favor, como já fez, em 2003, por exemplo, quando vendeu a notícia de lucro e perspectiva de recuperação rápida da empresa. Soube-se mais tarde que o balanço não teve inclusão de dívidas da estatal com compra de energia.
Enquanto o governo minimiza o peso das dificuldades financeiras da empresa e sua dificuldade de negociação com o governo federal, a Celg acumula juros, dívidas e multas.
Também em outras áreas, o governo ainda está longe de superar as dificuldades. Sem capacidade de endividamento e sem grandes cortes nos gastos com folha e custeio, a gestão estadual tem dificuldades de investimentos em saúde, segurança e educação – o tripé que é sempre vendido como prioridade, mas que é sempre o que apresenta os mais graves problemas.
A agenda oficial da viagem à Inglaterra, Irlanda e Rússia prevê visitas e reuniões para discutir investimentos nas áreas de educação e segurança. Tomara que voltem com boas notícias para os dois setores, que precisam ser de fato considerados prioridade.
O fato de Marconi se movimentar em todas as áreas, agir rápido, anunciar novos programas e prometer investimentos é positivo no sentido de motivar a equipe e criar um clima de otimismo no Estado. Por outro lado, não pode encobrir a realidade.
E esta mostra um governo que faz propaganda por pagar no mês trabalhado a folha dos servidores, mas que vem aumentando o número de cargos comissionados, especialmente em funções de chefia, que tem os maiores salários. O governo estuda abrir mais vagas para apadrinhados políticos num momento em que o Estado terá a obrigação de nomear mais de 2 mil concursados e diante do gravíssimo problema que é o crescimento da folha, que abocanha 68% da receita.
Até mesmo nas iniciativas para aumentar a arrecadação, o governo ainda tem muito a trabalhar. Além de não poder contrair empréstimos, o Estado ainda não conseguiu obter recursos em duas grandes apostas: a licitação da folha e a divisão dos recursos do Fundo do Judiciário. No primeiro caso, houve aparente acerto entre os bancos contra a licitação. No segundo, o governo acabou com apenas R$ 17 milhões, contra a pedida inicial de R$ 90 milhões.
Letargia
A falta de habilidade para lidar com situações de crise continua se destacando na gestão do prefeito Paulo Garcia. Na semana passada, o líder do prefeito na Câmara, Djalma Araújo, defendeu publicamente o afastamento do secretário Luiz Carlos Orro e até nova licitação por conta das denúncias do Mutirama. Djalma entregou o cargo, mas Paulo não aceitou. Disse em entrevista que cabe a ele buscar o consenso na base. Ora, mas a obrigação de trabalhar pelo entendimento não é justamente do representante do prefeito no Legislativo?
*Fabiana Pulcineli é repórter de Política. E-mail: [email protected]
Fonte: Jornal O Popular