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Descompasso na segurança pública

Descompasso na segurança públicaPor Paulo Sérgio Alves Araújo*

Goiás vive em um descompasso entre a realidade e o discurso governamental, que sustenta que os índices de criminalidade diminuíram no Estado, quando o que se percebe é justamente o contrário, com o crescimento não só nos números, mas também na gravidade dos crimes cometidos, assim como nos meios utilizados, com armamentos cada vez mais pesados.

A estatísticas da Polícia Civil no Estado são inequívocas. De 2009 a 2015 (até novembro), o número de homicídios em Goiás saltou 80,19%, de 1.318 para 2.375 registros; os furtos (qualificados e tentados) subiram de 2.276 para 6.066, um aumento de 166,52%. O mais assustador é o de roubos qualificados (quando há emprego de grande violência), que saíram de 348 casos em 2009 para 4.174 nos 11 primeiros meses de 2015, o que representa um acréscimo de incríveis 1.099,42%.

Em Goiânia, os números também mostram um avanço nessas modalidades criminosas no mesmo período analisado. Houve um acréscimo de 19,79% em seis anos nos casos de homicídio – que foram 322, em 2009, a 575, em 2015 -; de 82,09% nos de furtos, que subiram de 660 para 1.881; de 540,95% nos roubos qualificados, que aumentaram de 62 casos, em 2009, para 1.878 em 2015.

Houve, sim, um aumento considerável na criminalidade em Goiás e o que se nota é que a percepção social está mais próxima da realidade evidenciada pelos números do que o discurso estatal. A preocupação do Estado não é em resolver essa situação, não é em pôr em prática projetos, se projetos existirem.

Temos sentido, inclusive na pele, a violência e suas consequências. Policiais, civis e militares, agentes de segurança, também estão tendo suas vidas ceifadas. A sociedade como um todo está à mercê da evolução do crime em Goiás. O principal motivo é a falta de efetiva política de segurança pública. Não temos uma política a seguir. Nem em Goiás nem em nível nacional. O que existem são ações pontuais e isso não é segurança pública.

O modelo de polícia no Brasil não é o adequado, pois, em sua maioria, é reativo e não proativo. A polícia está cada vez mais distante do cidadão. O bairro é onde as pessoas vivem, onde deveria haver um distrito, com policiais presentes, participando do dia a dia da comunidade. Ao contrário disso, o que temos são distritos sendo fechados. Por quê? Porque não têm gente para trabalhar. Os que ainda existem são instalados em casas improvisadas, muitas vezes em ambientes infectos.

Em Goiânia, foi criada a Central de Flagrantes, para onde devem ser encaminhados todos os casos. Isso só vai nos distanciar ainda mais do cidadão. Essa central seria para liberar os policiais para investigar. Mas eu pergunto: quais policiais? Não se contrata, não temos policiais. Há uma evasão enorme de pessoas que, mesmo aprovadas em concursos anteriores da Polícia Civil de Goiás, buscam outras carreiras, em outros Estados.

Além disso, pesquisas de vitimologia mostram que apenas metade dos crimes é registrada. As vítimas da outra metade deixam de procurar a polícia por motivos diversos. Algumas não têm dinheiro sequer para pagar o ônibus até a delegacia. Outras não o fazem por desânimo, por desacreditar nas forças policiais. Estamos virando uma ilha, afastados da sociedade. Essa situação é agravada por baixos salários, recursos limitados para trabalhar, assédio moral. Tudo contribui para aumentar esse fosso. Se tivéssemos, no bairro, a possibilidade de atender bem a população, haveria mais confiança em nós.

Quando apresento esses números, são os mesmos aos quais os técnicos em segurança têm acesso e que deveriam servir de estudo para aplicação de recursos e elaboração de políticas. Em vez disso, o que temos são tentativas de mascarar os índices. Isso é cruel com toda a sociedade, pois tenta mascarar a realidade, apesar de ser visível a situação de insegurança em que todos vivemos.

* Paulo Sérgio Alves Araújo é presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Goiás (Sinpol-GO)

Fonte: Jornal O Popular

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