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Debate raso

Por Fabiana Pulcineli

“Em meio à proposta de greve dos professores, reduziram a discussão a uma simples troca de ataques políticos.”
Uma pena o desvio de foco e o empobrecimento do debate sobre os rumos da Educação no Estado que ocorreram na semana passada. Em meio à proposta de greve dos professores, reduziram a discussão simplesmente a uma trocas de ataques do jogo político-partidário, enquanto a questão maior deveria ser a sequência de mudanças implantadas no setor educacional e as consequências delas a curto, médio e longo prazos.
Logo que a greve foi aprovada em assembleia da categoria, na quinta-feira, começou a artilharia pesada de aliados do governo contra o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás (Sintego). Os argumentos são de que a entidade é ligada ao PT e abriu espaço para deputado e vereador da oposição discursarem na reunião. Dizem ainda que é ano eleitoral e a intenção é unicamente desgastar o governo e o PSDB.
Sem dúvida, a presença de lideranças políticas não deixa de reduzir a credibilidade do sindicato e abrir espaço para crítica. Comenta-se ainda que o Sintego prepara a candidatura de um professor filiado ao PT para a Câmara de Goiânia. Tudo isso reduz bastante a confiança até mesmo da categoria sobre os passos da entidade.
Mas, se a proposta de greve é política, a indicação de Thiago Peixoto para a Secretaria de Educação foi também uma jogada política para cooptar uma das principais lideranças da oposição, no caso do PMDB. A prioridade para a escolha do titular de uma das pastas mais importantes do governo foi política, não técnica. Não há política por trás das movimentações de ambos os lados? Claro que sim.
Isso significa que resumir a discussão apenas na dúvida de serem ou não os protestos motivados por interesses partidários é minimizar uma polêmica muito mais séria e com efeitos muito mais importantes para Goiás: o caminho que segue a Educação pública no Estado. O resto é lenga-lenga.
Em dezembro, para cumprir a lei federal que estabelece o piso da Educação, o governo estadual enviou à Assembleia Legislativa projeto de lei que concede aumento de 45,12% para o chamado P1, base da categoria, e incorporou gratificações de titularidade aos vencimentos, em um conjunto de mudanças que afeta o plano de cargos e salários e representa, segundo os cálculos do Sintego, achatamento da carreira de 92,4% para 75,3% (de P1a a P4g).
O efeito imediato são queixas, insatisfação e descrença por parte da maioria dos professores – ainda que o governo insista em negar o desgaste. O universo é amplo, mas são constantes as críticas nas redes sociais e nas escolas vindas até mesmo de professores que não concordam com a greve.
A mudança, dizem, representa desvalorização do crescimento intelectual e, consequentemente, redução da procura por mais estudos e qualificação. Desmotivação é a palavra que mais repetem. O plano de cargos e salários instituído em 2001, no primeiro mandato do governador Marconi Perillo (PSDB), tentava exatamente estimular a busca pelo ensino atrelando a isso o ganho financeiro.
A indignação foi maior ainda – e poderia ter sido minimizada – pela falta de diálogo com a categoria. Representados pelo Sintego ou não, professores buscaram debater com o governo antes e depois de enviado o projeto ao Legislativo e não tiveram êxito. Como se mexe profundamente em um PCS em vigor há mais de dez anos sem amplo e profundo debate? Um equívoco do governo, mesmo com argumento de dificuldades financeiras para manter a proporcionalidade do plano.
Apesar de o juiz Fábio Cristovão de Campos Faria, que decretou a ilegalidade da greve no último sábado, afirmar que não houve “qualquer esforço de conciliação em prol do interesse público maior”, quem acompanhou a tramitação do projeto de lei sabe que foram inúmeras as tentativas de conversa com o secretário e também com o governador. Fizeram até contatos com aliados políticos do governo para propor o diálogo. Em vão.
Mudanças na Educação exigem mesmo enfrentamentos e muitas vezes desgastes, mas o bom senso, o diálogo e a busca por conhecer de perto a realidade dos professores e das escolas – não simplesmente números, notas ou levantamentos, mas o dia-a- dia, a vivência, as experiências, os anseios, as dificuldades – são fundamentais para o sucesso de uma gestão.
O comando da Seduc investe na ideia de meritocracia e criou bônus como forma de reconhecimento. São ideias interessantes e válidas, mas que não substituem o PCS e exigem um debate mais amplo e democrático.

Fonte: Jornal O Popular

 

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