Buzinas, vaias, panelaços…
Por Norton Ferreira*
“Você tem todo o direito de se irritar e de se preocupar, mas lhe peço paciência e compreensão porque esta situação é passageira.” A presidente Dilma Rousseff não teve pudor durante seu pronunciamento em rede nacional, no domingo, Dia Internacional da Mulher, para pedir que o brasileiro seja compreensivo no enfrentamento da crise econômica do País. O pedido soou como ofensa e desrespeito. O Brasil já se tornou uma bomba relógio e quem acendeu o seu pavio que assuma o estrago.
A presidente foi além ao atribuir a crise do Brasil à conjuntura mundial e dizer que a sociedade tem de dividir a conta com o governo. A resposta, enquanto a presidente falava sem convencer, foi a demonstração de descontentamento com manifestações de rua, gritos, buzinaços, vaias, panelaços e o acende-apaga de luzes residenciais. Sinais de um embate mais duro nas ruas, antes que vá tudo para o abismo. A conta, senhora presidente, o povo já está pagando a um custo muito alto. A escalada de aumentos está pesando muito no bolso e, junto, a insatisfação popular pulsa cada vez mais forte.
Dilma jogou para cima da seca a justificativa para os aumentos de preços e fez defesa veemente do ajuste fiscal como caminho para equilibrar as finanças e colocar o País nos trilhos. O PT está desacreditado e vai entrar para a história como o governo e o partido que protagonizaram a maior corrupção brasileira, o da Petrobras. Saquearam a estatal, até então uma referência em rentabilidade e credibilidade, e ainda tratam o assunto como se não fosse com eles.
Os meandros da falcatrua nos cofres da Petrobras e não vão ficar por menos, porque os órgãos federais que investigam o rombo na estatal não se curvarão diante das pressões. A lista com os nomes dos beneficiários da corrupção na Petrobras foi aberta pelo procurador geral da República, expondo velhas caras da política brasileira. Doa a quem doer, seja qual for a cor partidária e a cadeira que ocupar, a punição deve ser exemplar, restando provada a participação dos listadas na quadrilha.
A presidente perdeu uma excelente oportunidade para ficar calada. Falou o que quis e ouviu o que não queria, em forma de protesto, ao provocar a Nação com um discurso fora da sintonia, mesmo que tenha garantido que as conquistas dos trabalhadores e de toda a classe média serão mantidas nas discussões do ajuste fiscal.
É bom que o governo não subestime os movimentos populares espontâneos de domingo nem duvide da força de um povo reconhecidamente ordeiro quando sai em massa às ruas. O ex-presidente Collor de Melo, um dos que aparecem na lista dos que meteram a mão na Petrobras, experimentou o pior ao ser enxotado do Palácio do Planalto por suas peripécias e mazelas no poder. O atual governo parece ter dado muito mais motivos para que o povo volte às ruas e exija mudanças para não ter que pagar mais de uma conta.
*Norton Luiz Ferreira é delegado de Polícia
Fonte: Jornal O Popular