A segurança do Entorno
O Sindicato dos Policiais Civis de Goiás (Sinpol-GO) tem espalhado outdoors na Região do Entorno alertando a população para o estado precário da segurança pública. A publicidade traz como destaque a frase: “Você está entrando na região mais violenta do planeta! O Entorno do DF!”
A reação da Secretaria de Segurança foi rápida. Em nota, destacou que cabe à polícia retirar o desagradável título da região. E enfatizou: “Se não o fez é porque não está trabalhando como deveria”.
Não há dúvida de que os índices de violência do Entorno estão entre os mais altos do Brasil. O Sinpol-GO está correto quando denuncia a precariedade das condições de trabalho dos policiais civis. De acordo com o sindicato, são apenas 390 policiais para mais de um milhão de habitantes. Isso sem contar a falta de estrutura material para acompanhar as demandas mais básicas para realizar o processo de investigação.
Contudo, a fórmula “mais policiais, mais salário” é apenas um quesito para consolidação de um sistema de segurança eficiente. Sozinha, esta fórmula não mudaria quase nada. Isso porque a redução da violência envolve um conjunto de fatores que vão desde melhorar a educação, passando pela oferta de serviços de saúde, à criação de empregos e moradia, entre outros.
Ou seja, para enfrentar a violência, o Estado deve também apresentar um consistente programa de oferta de serviços básicos para a população local. Sem essas políticas sociais vamos ter apenas políticas de encarceramento e punição.
Porém, neste debate, o que mais chamou a atenção foi a resposta produzida pela assessoria da Secretaria de Segurança. Em nota publicada pelos jornais, a secretaria afirmou que o Entorno só é violento porque a polícia que está lá “não está trabalhando como deveria.”
Como todos sabem, a Polícia Civil é subordinada à Secretaria de Segurança. Logo, se os policiais não estiverem trabalhando é porque a secretaria, por sua vez, não faz seu trabalho. Ou seja, a assessoria deu um tiro no próprio pé.
O efetivo da Polícia Civil é pequeno e a quantidade de trabalho está para além de suas capacidades. Os dados alarmantes sobre as condições de segurança são mais do que suficientes para mobilizar o Estado para que apresente uma proposta consistente para enfrentar a violência. Cabe à secretaria demonstrar que está providenciando saídas para o problema e não jogar a responsabilidade para os outros.
Até agora, contudo, a secretaria não ofereceu nada como resposta para a violência do Entorno. Para ela, as condições atuais são suficientes. Basta que os atuais policiais civis trabalhem. Ou seja, da parte dela não há nada a fazer.
* Dijaci David de Oliveira é doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e professor da Faculdade de Ciências Sociais (FCS) da Universidade Federal de Goiás (UFG)
Fonte: Jornal O Popular